Alegria e solidariedade: Projeto do Ernane comemora 10 anos de
A importância da água para os bovinos
Por Joédson S. Scherrer – Especialista em Gado de Leite da Associação dos Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo
Dentro de um complexo universo que compõe as modernas técnicas de manejo, a água está inserida como um dos componentes mais importante para a vida animal. Sem distinguir nenhuma fase da vida do bovino leiteiro, isto é, da bezerra à vaca adulta, a água tem papel muito importante e determinante no desenvolvimento animal.
Entretanto, por razões alheias, este importante componente nem sempre tem recebido a atenção devida por parte de muitos criadores, e seus animais nem sempre têm acesso e disponibilidade a água de boa qualidade e em quantidade suficiente em suas fazendas.
Nossa maior preocupação com água está ligada ao fato de ser um dos principais componentes do peso corporal animal, participando com mais de 60%. Além disso, não podemos esquecer que estamos num país de clima tropical, que apresenta temperatura ambiente alta, e que nossos bovinos estão sujeitos a constante estresse térmico, gerando perda de água maior por transpiração, suor, vaporização, salivação e movimentos respiratórios mais rápidos.
É preciso também citar que todos os processos metabólicos que ocorrem no organismo de um bovino, e em especial as reações bioquímicas, acontecem num ambiente aquoso. Assim, a água faz parte do processo fisiológico animal em qualquer fase da vida, pois, quando jovem, a falta de água prejudica o metabolismo predispondo os animais a diversas doenças, comprometendo a produção futura.
Bezerros e suas exigências em água
Após o nascimento, tudo o que o bezerro mais necessita depois de ingerir o colostro é a água. Trata-se de um componente da dieta tão essencial quanto proteínas, fibras e minerais. A água faz parte do processo fisiológico das células, e sua falta compromete o metabolismo e retarda o desenvolvimento correto do rúmen do animal como um todo. Muitos criadores desconhecem sua importância e ainda creem que o colostro e o leite substituem a água, não fornecendo água suficiente e com qualidade para garantir o bom desenvolvimento animal.
Quando isto ocorre, o bezerro ingere menor quantidade de matéria seca, tem atraso no desenvolvimento do rúmen e maior estresse e se torna predisposto a doenças. É lógico que, ao nascer, o bezerro se apresenta bem hidratado e isso ainda é reforçado pela ingestão de colostro, mas, a partir do terceiro dia de vida, sua necessidade por água aumenta, fato este que justifica sua disponibilidade já nas primeiras horas de vida.
O quadro a seguir reforça muito bem essa situação:
Comparação entre ganho de peso diário, consumo de concentrado e saúde em duas situações diferentes.
Fonte: Kertz A.F.
Fazenda Purina
Um bezerro é capaz de consumir de 3 a 10 litros de água diariamente
O fornecimento de água aos bezerros pode ocorrer de várias maneiras. Muitos produtores o fazem por meio do próprio balde que fornecem leite, um método eficiente, mas que depende muito da atenção da mão de obra utilizada, pois é preciso observar a higiene destes baldes, a qualidade da Água e a sua temperatura. Outros fornecem água por meio de bebedouros com bicos cobertos que garantem água ininterruptamente e com qualidade.
Como, hoje, o sistema que apresenta melhor custo/benefício para a criação de bezerros é o dos abrigos individuais, a opção tem sido pelo balde aberto ou adaptado com bico. O bezerro entra na fase de ruminante já a partir da terceira semana, e a água tem uma importância fundamental como auxiliar no processo de fermentação de concentrado, grãos e feno. É nesta fase que também se registra maior consumo de água, pois os animais passam a receber dietas mais ricas em proteínas, energia e minerais, e estes produzem resíduos no organismo que necessitam de água para sua eliminação.
Ainda nesta fase jovem do animal, a água assume papel importante frente aos problemas de diarreia. Se causada por vírus ou bactérias, a diarreia faz com que, num período de 24 horas, um bezerro perca até 8 litros de líquido de sua estrutura corporal, além dos minerais. Nestes casos, a água deve ser fornecida em abundância e até por ingestão forçada, pois a perda acelerada de líquido leva a uma desidratação e, como consequência, a morte.
Animais adultos
Para uma vaca em produção, a água só perde para o oxigênio em ordem de importância para sua existência. Sua necessidade está diretamente ligada à manutenção do volume sanguíneo, órgãos, tecidos e digestão dos alimentos. Mas apesar de toda esta importância nem sempre os criadores preocupam com a qualidade e a quantidade de água que disponibilizam em suas instalações.
É comum encontrarmos locais onde se oferece água em bebedouros sujos, de baixa qualidade, de difícil acesso e com dimensões inadequadas para com o número de animais por área.
Outros preferem disponibilizar para suas vacas açudes e represas para fornecimento de água, predispondo seus animais a riscos de contaminação por vermes e outros parasitos indesejáveis.
Uma fazenda leiteira deve ter disponibilidade adequada de água potável, tanto para atender às necessidades animal como para uso em limpeza de suas instalações.
Uma vaca adulta, dependendo de seu tamanho, idade e produção leiteira, chega a ingerir diariamente de 100 a 150 litros de água, considerando que 87% da composição de cada litro de leite é água.
Considerações finais
Para atendermos as exigências dos bovinos leiteiros e disponibilizarmos água de qualidade e em quantidade suficiente em nossas fazendas, temos que observar os seguintes aspectos:
1-A produção leiteira é altamente dependente da água.
2-Precisamos disponibilizar água potável e em quantidade, principalmente nas salas de espera e na saída da sala de ordenha.
3-Os bebedouros devem ser dispostos a uma distância máxima de 15 metros dos cochos de alimentação e de fácil acesso.
4-Os bebedouros devem ser construídos de alvenaria, fibra ou metal, com dimensão mínima de 12 cm por animal, com tamanho adequado que não provoque demora na renovação de água, com um mínimo de lâmina de água de 30 cm para proporcionar maior conforto à musculatura da boca. Bebedouros muito grandes são indesejáveis, pois a renovação da água fica lenta. A vazão ideal é de 11 a 19 litros por minuto.
5-Os bebedouros devem ser limpos duas vezes ao dia com buchas ou pano. Não usar detergentes nessa limpeza, devido ao perigo de resíduos. O sabão pode ser utilizado, porém é necessário lavar com água corrente,
6-Uma vaca tem acesso ao bebedouro pelo menos 5 vezes ao dia, consumindo, em média, 7 a 25 litros de água por vez. Por isso, após a ordenha, as vacas devem ter acesso fácil a água e alimentação.
7-A altura dos bebedouros tem uma grande importância, pois bebedouros muito altos prejudicam o acesso do bezerro. Bebedouros com altura acima de 80 cm inibem o consumo de água.
8-Para assegurar a qualidade de uma água cristalina e sem formação de limo, o uso de pastilhas de cloro tem apresentado bons resultados. No entanto, é preciso optar pelas pastilhas de liberação lenta, bastante diferente dos produtos efervescentes utilizados em piscinas.
Bebedouros com espaço suficiente e água de boa qualidade.